quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PROTESTOS VAZIOS.

Disse Diogo Mainardi certa vez que os seus melhores textos são sobre assuntos que ele não entende. Talvez seja isso que eu estou fazendo agora, mas não pude deixar passar a oportunidade.

Depois que aderi às tais redes sociais, tenho percebido um volume considerável de mensagens, além de receber vários e.mails, repassando textos e matérias contra a construção da usina de Belo Monte, sempre com fundo ambientalista e preservacionista. Uma causa louvável. Não sou especialista em usinas hidrelétricas nem em meio ambiente, mas as pessoas que me repassam esses textos também não são. Assim comecei a prestar mais atenção às mensagens e notei que todos os conhecidos que me enviaram coisas assim são urbanos, nunca tiveram contato com a natureza, com as florestas ou com os povos indígenas ameaçados e usam o computador para se manifestar baseados em notícias vistas na televisão. Como computador e televisão dependem de eletricidade e energia elétrica depende de usinas, comecei a achar meio estranho essa gente ser contra isso. Mas enfim, como hoje em dia ser contra alguma coisa que interfira na natureza é um modismo politicamente correto, o assunto acaba recebendo o apoio estridente de muitas pessoas não fazem a mínima idéia do que estão falando.

Mas algumas dessas as pessoas começam a incomodar. Em um desses sábados, depois das minhas saudáveis pedaladas de final de tarde, parei no Postinho do Parque, point descolado daqui de Campo Grande, para tomar um refrigerante. Encontrei um conhecido em uma mesa acompanhado de algumas pessoas que eu não conhecia. O assunto em pauta era Belo Monte. Tudo o que eu queria naquele sábado à tarde era um passeio tranqüilo e algumas horas de lazer, mas um dos que estavam ali, mais exaltado, fazia críticas ferozes à construção da usina. Bradava contra destruição da floresta, dos animais, dos peixes, dos índios, vez ou outra voltava a sua ira contra as grandes empreiteiras, o governo, os políticos corruptos, já que criticar empreiteiras, governo e políticos corruptos, por aqui é tão original quanto um concursso de miss, e assim continuava a denunciar a colossal destruição que a usina iria provocar, em troca de nada, segundo ele.

Enquanto eu tomava a minha coca zero calmamente, como ensinou Caetano, perguntei a ele em qual rio a usina seria construída e onde seria perpetrado tamanho crime ambiental. Ele titubeou e disse que era na Amazônia. Sim, mas a Amazônia é enorme. Em qual rio? Ele não sabia. Continuei. Em qual estado? Ele também não sabia. Resolvi não perguntar em qual município ou a localização exata no rio onde a usina seria construída, uma vez que as respostas anteriores denunciavam que ele não saberia também. Mas como ele falava em destruição ambiental, perguntei qual o tamanho da área que seria alagada. Ele não tinha idéia, mas garantiu que os povos indígenas da região perderiam as suas terras. E quais povos indígenas? Qual etnia? Qual o tamanho da área indígena? Quantos vivem lá? Ele também não sabia. Mas então deveria saber por que a usina não ia servir para nada. Então perguntei qual o volume de energia que seria gerado. Pela sua cara ele não sabia do que eu estava falando. Qual empreiteira vai construir a usina? Hã! Quanto vai custar? Quantas pessoas vão trabalhar na obra? Então em uma audaciosa manobra e talvez a mais inteligente e sensata que ele pode pensar, preferiu pedir mais uma cervejinha e ir ao banheiro enquanto alguns presentes caiam na risada.

Como eu disse, não entendo de usinas hidrelétricas e nem de meio ambiente, mas não faço proselitismo de assuntos que eu não domino. Muita gente que anda divulgando mensagens sobre assuntos sobre os quais não tem o mínimo conhecimento poderia passar a fazer isso também e parar de encher a minha caixa de entrada com bobagens desse tipo.


Texto: Joaquim Terra
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